miércoles, marzo 18, 2009

AMOR CANIBAL

ANDAVA PELO MUNDO SEM SENTIDO NEM DIREÇÃO ATÉ QUE TROPECEI E CAÍ EM SUA BOCA, UMA BOCA QUE ME SEGURAVA E ME MORDIA E ME MASTIGAVA ATÉ EU SER ENGOLIDA POR INTEIRA.
E DE REPENTE ESTAVA EU DENTRO DE VOCÊ, FAZENDO PARTE DE VOCÊ, MINHA VONTADE ESTAVA AGORA CORRENDO ENTRE SUAS VEIAS, EM SEU SANGUE.
FIZ ENTÃO UMA VIAGEM POR SEU CORPO, PASSEI POR SEU ESTÔMAGO ONDE, O FRIO QUE OUTRORA ME PROVOCARA, TE FIZ SENTIR.
FUI ENTÃO SINTETIZADA EM FORMA DE LAVA E MEUS NUTRIENTES PASSARAM A NUTRIR SEU CORPO. SENTI SEUS MÚSCULOS FICANDO MAIS INTENSOS E BEIJEI SEU CORAÇÃO, MAS UM PULSAR MAIS FORTE ME FEZ SER EXPULSA DA MORADA QUE SEMPRE ANSEEI.
FUI CONDENADA ENTÃO A HABITAR EM SEU PULMÃO, ONDE EU PASSEI A FAZER PARTE DE SEU HÁLITO E VOLTAVA NA FORMA DO AR QUE VOCÊ RESPIRAVA.
MAIS UMA VEZ PASSEI POR TODO AQUELE CORPO QUE ERA MEU E QUE ERA EU E MAIS UMA VEZ ALIMENTEI SEU CÉREBRO COM MINHAS IDÉIAS, DÚVIDAS E MEDOS.
ME TRANSFORMEI EM UM NEURÔNIO.
FICAVA ALI MORANDO EM SUA CABEÇA E TENTAVA FAZER COM QUE VOCÊ SE LEMBRASSE DO MEU CHEIRO E QUE SE LEMBRASSE QUE EU TINHA EXISTIDO.
ME MUDEI PARA OS SEUS OLHOS ONDE ENCHERGUEI UM MUNDO DIFERENTE DO MEU, AO VER QUE TINHA SIDO ESQUECIDA DEIXEI QUE ME EXPULSASSE EM UMA LÁGRIMA QUE CORREU POR TODO SEU ROSTO, PINGOU EM SEU PESCOÇO E ENTÃO ESCORRI DURANTE DIAS PELO SEU PEITO.
QUANDO SENTI QUE NÃO PODERIA NUNCA MAIS DEIXAR VOCÊ HIDRATEI SUA PELE E VOLTEI A PASSAR MEUS DIAS INDO E VINDO PELO SEU CORPO, ATÉ SENTIR UM DESEJO TÃO GRANDE DE RENASCER QUE ME DEIXEI SER EXPULSA DE VEZ DESSA VIDA QUE NÃO ERA MAIS MINHA, DA FORMA COMO ENTREI, ATRAVÉS DE UM GOZO QUENTE, VERDADEIRO E SUBLIME.


HELENA FERRAN

DESEJO

Nossa! Eu não me sentia assim há muito tempo!Me sinto uma Deusa, uma sedutora, me sinto perfeita, me sinto linda, charmosa, me sinto poderosa, me sinto mulher e não uma menina.E como eu sei seduzir... tinha me esquecido disso, andava me sentindo tão feia, tão desmotivada. Tinha esquecido o poder do meu toque, que sei muito bem como e onde tocar, que sei enlouquecer alguém, que posso deixar alguém apaixonado.Mas eu também me apaixono. Adoro o jeito como ele reage aos meus carinhos, o calor dele, o contato, a pele, a boca, os beijos, ah... os beijos... são um capítulo à parte. O ritmo da música... nosso beijo tem uma trilha perfeita. Um CD inteiro que se repete várias vezes e que vai levando minhas mãos para a nuca dele, que vai fazendo com que eu o toque com a intensidade perfeita, os carinhos na face, quando ele diz que eu sou linda... e me toca o rosto, com cuidado, como se eu fosse desintegrar se ele segurar muito forte, mas depois ele me aperta a cintura, me puxa, e me beija a boca forte, como se fosse a última coisa que ele vai fazer no mundo. E quando ele segura meus cabelos pela nuca... e passa a outra mão pelo meu pescoço, pelo meu colo... e recomeçamos tudo de novo. Várias vezes, uma noite é pouca, muito pouca, tanto que estou quase sem dormir há algumas noites, mas mesmo assim quero mais, quero muito mais.A pele combina, os corpos se encaixam perfeitamente, milimetricamente. A boca descobre novos cantos, descobre o imenso universo que há entre os lábios. Descobre movimentos, ritmos, descobre o frio, o calor, descobre o seco, o molhado, descobre a língua.E a língua... ah! A língua. Os movimentos possíveis, a sincronia, é uma dança que acontece na boca, como dançar juntinho, coladinho, e girar, e rodopiar, e querer roubar um pedaço, e querer ter, e querer ser, e querer,só querer... E não é, nunca é um ato egoísta. E a língua não dança só com a outra língua. Ela tem amantes, e ela procura outras partes, e é aí que as mãos ajudam... as mão dele, as minhas, sabem exatamente o que fazem, sabem exatamente dar prazer, não é necessário palavra alguma, embora eu solte algumas, a maioria inteligível, balbuciadas, junto com gemidos, que sempre procuram a orelha, palavras que não procuram ser compreendidas mas sim sentidas, palavras que saem de dentro, palavras que saem quentes, com cheiro do meu hálito, com a intenção de acariciar, palavras que tocam a pele, palavras que massageiam, palavras que serpenteiam pelo corpo e se transformam em vontade, em gana, em desejo

HELENA FERRAN